domingo, 22 de março de 2009

Sofrimento e felicidade

Bem, pra pararem de me chamar de machista, vou escrever sobre algo um pouco diferente hoje, sofrimento, algo meio depressivo mas constante na vida de qualquer pessoa que respire.

Em uma conversa com meu tio, um filósofo de buteco do interior, ele me contou uma lenda budista. Era mais ou menos assim... Desesperada com a morte de seu filho, certa mãe recorreu ao Buda. Ela queria que o Buda o ressuscitasse. Ele disse que sim. Mas desde que ela obtivesse não lembro bem o que - se não me engano, grãos de mostarda - na casa de alguma família que jamais tivesse passado pela dor da morte de alguém importante. A mãe tentou, e tentou, e tentou. Não conseguiu. Em toda casa na qual batia havia histórias de morte e dor. O Buda não ressuscitou o filho perdido. mas fez a mãe enxergar a morte de outra forma. Ela não estava sozinha no sofrimento.

Voltei a encontrar essa história que me foi contada pelo meu tio num livro do Dalai Lama a tempos atrás. Confesso que ao lê-la, me senti orgulhoso do meu tio butequeiro. Ao chegar ao trecho, tive a vontade ingênua de fechar o livro e sair gritando, numa tolice triunfal: "Eu já conhecia essa história, eu já conhecia!"

Aquela maravilhosa fábula budista do sofrimento se aplica ao amor romântico. Quando alguém que amamos nos abandona, nos sentimos arrasados. nada mais tem graça. Tudo parece perder o sentido. A tristeza se amplia por uma sensação que sempre está presente nessas ocasiões: a de que só nós sofremos. Todo mundo está tão feliz, todos os casais se dão tão bem, todos os amores têm final tão feliz. E só eu aqui no chão. Só eu sofrendo. O mundo parece, nessas horas, horrorosamente injusto. E à dor concreta da perda se acrescenta a impressão abstrata e cruel de que, num mundo perfeito e feliz, fomos arbitrariamente escolhidos para experimentar o infortúnio. A vida pode ficar então, insuportável. Porque não existe nada mais dilacerante que a dor solitária.

Só que ninguém é solitário na dor. Nas palavras simples e irrefutáveis do Dalai Lama, o sofrimento é o elo que une a humanidade. Ricos ou pobres, brancos ou negros, ninguém escapa ao sofrimento. Sim, eu sei que você já sofreu por um amor, pode ter guardado pra você, sempre estar feliz perante todos, mas sozinho voc~e já sofreu, quem não sofreu por amior, não viveu ainda.

Não vou dizer que o sofrimento alheio nos alegra. (Se isso acontece, temos a prova de que somos definitivamente mesquinhos) mas, quando notamos que não estamos isolados em nossa dor, podemos vê-la sob outra perspectiva, como a mãe da fábula budista. E assim talvez tenhamos melhores condições de lidar com ela. Não há ninguém que não tenha passado por uma desilusão amorosa. Ou duas. Ou três, ou mais. Você não é o único.

Que ninguém confunda: não estou fazendo apologia do sofrimento. Estou apenas dizendo que se pode ver a dor sob diferentes aspectos. E quase sempre preferimos vê-la sob o pior. E já que comecei o texto com budismo, termino com uma frase do Dalai Lama que deveríamos deixar eternamente pendurada na parede de nossa mente: "O propósito da vida é a felicidade". Aprender a lidar com o sfrimento é o primeiro e vital passo nessa busca.

PS: esse ficou grande mas leiam e comentem.

PS2 : (não o da Sony): não, eu não sou budista e ainda falo pra todo mundo que odeio livro de auto ajuda, e é serio. :x

3 comentários:

Anônimo disse...

A lenda do seu tio foi muito boa.
E o seu texto tambem.
Vou começar a ler seus texto.
Vlw mumu
Germano(irmao do gudin)

Unknown disse...

Você ainda vai começar? IOAHEOAIHEOIE, ótimo texto! :D Me ajudou a refletir sobre aquilo que eu disse no MSN, risos.

( manel )

Julin xD~ disse...

Veio...
esse texto me faz lembrar também uma historia legal...
...
Um professor chegou em sala
e colocou um grande lençol branco na frente da turma, com um pontinho preto bem no centro...
e levantou o seguinte questionamento na sala... O que que eles estavam vendo?
A unanimidade concordou que estavam vendo um pontinho preto no lençol. e ele chamou a atenção. que ninguém havia reparado na grande e maior parte branca do lençol, e que assim fazemos na vida...
um pontinho minusculo nos faz ficar presos e não vermos a imensidao de lençol branco.
Assim... pra fazer a conexao com o seu texto eu localizo o sofrimento..
nós sofremos por motivos tolos e mesquinhos quando colocados frente a frente com outros motivos de alegria. o ideal era fazer uma aferiçao na balança dos sentimentos de modo que possamos pesar igualmente tudo de bom e de ruim que nos acontece. E todo mundo prefere fazer com que o pontinho preto da vida se sobressaia muito mais do que todo o resto do lençol branco...
E isso todo mundo sabe.. e ta cansado de escutar..
mas ja paramos pra pensar porque isso acontece?