terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

O fim do amor platônico

Quando eu tinha 13 anos, eu era secretamente apaixonado por uma garota do colégio. Eu não sabia nada a respeito dela. E claro que queria saber tudo. Tudo parecia importante. O filme que ela mais gostava. O número do seu telefone. O CEP. Qualquer coisa minimamene relacionada à vida dela parecia mais importante do que qualquer coisa relacionada à minha própria vida.

Mas eu era tímido. E ela era linda. E a distância, eu não tinha como descobrir nada. Mas um dia surgiu uma oportunidade. O colégio instalou caixas de som no pátio para tocar música durante os intervalos e pediu aos alunos que preenchessem um formulário com suas músicas prediletas. Era minha chane de descobrir o gosto dela. Gosto é uma coisa importante. Importantíssima. Entrei escondido na sala onde ficavam os formulários. Era uma escola onde tinham uns 400 alunos. Mais de 400 formulários. Olhei um por um, na penumbra, suando frio. Mas o dela não estava lá. Descobri, depois, que ela tinha faltado e não tinha preenchido formulário nenhum. Foi meu primeiro amor platônico. Durou vários meses. 15 anos atrás.

Hoje tudo seria mais fácil. Hoje tem Google. Tem Orkut. Facebook. MySpace. Twitter. E agora, mais recentemente, Formspring (para quem ainda não sabe, Formspring é a mais nova modinha da internet, um site em que as pessoas fazem perguntas anonimamente umas às outras). Ou seja: hoje em dia um moleque tem como descobrir basicamente tudo sobre uma garota. Sabe quando ela acoda (está lá o bom dia no Twitter), onde ela foi nas férias (fotos no Facebook), o queela acha que o mundo devia fazer para conter o aquecimento global (tá lá a foto do Al Gore no blog). Se existissem essas coisas na minha época, eu... bem, eu teria deixado de gstar daquela garota. Meu amor não teria durado dois dias. Talvez nem duas horas. É óbvio. Elementar. O amor platônico precisa de distância, precisa de idealização. Amor platônico não combina com realidade. É como meia roxa com terno preto. Ou com qualquer terno. Ou com qualquer roupa. Simplesemente não combina.

Hoje em dia, o molequinho apaixonado tem que encarar o fato de que sua amada escreve coisas como "atoooooooron o Cauã Reymond!" (atoron significa adoro em linguagem de internet; Cauã Reymond eu não sei). Tem que encarar o fato de que ela ri com kkkkkkkk ou com aschuaschuaahua (o que aconteceu com o bom e velho hahaha, meu Deus do céu?). Tem que encarar o fato de que ela venera filmes cretinos, ouve música insuportável e participa de comunidades como "Por onde passo causo, por onde fiko arrazo". Tudo isso SEM sexo.

É claro que amor platônico nenhum pode sobreviver assim. Acabou. Já era. Nunca mais. Eu fico imaginando esse moleque, soterrado pelos fatos, destruído. acabado, tentando preservar pelo enos uma migalha do seu amor: ele entra no Formspring e pergunta, desesperado: não dá pra você ficar quieta não? E a resposta tão terrível quanto inevitável: naummmmm!

PS: se leu fica a vontade pra comentar :x