domingo, 6 de fevereiro de 2011

A asma do amor

Não há mais dúvidas: quanto mais beira o verossímil, com gritos lancinantes na noite, como assimilamos do cinema, mais fingido é o tal do orgasmo. Nunca é condizente com a nossa performance e o suor. Os melhores e mais recompensadores orgasmosguardam o bom preceito da educação dos gemidos.

Por mais megalomaníaco que seja Vossa Senhoria, recomendo que não acredite naquelas algazarras, feiras amorosas, sacolões do sexo, capazaes de fazer os vizinhos pularem da cama só de inveja. Aquela gritaria toda, meu caro, só vale para provocar um problema dos graves. Deixará o casal que mora do outro lado da parede em pé de guerra, uma vez que a mulher, atenta à lição de gozo comparado, vai exigir mais, muito mais, mais e mais, e mais um pouquinho ainda, do seu colega de prédio ou de rua. E o pior é que os gritos lancinantes só costumam ocorrer quando o gozo não passa de teatro, puro teatro.

O gozo desesperado costuma ter origens variadas, costuma ser resultado de algum curso mal digerido de teatro amador, formação e, escola com viés jesuítico, leitura errada dos preceitos do Actor Studios, dietas à base de alcachofra, audiências tardias das onomatopéias do Led Zeppelin ou falta de homem propriamente dita.

As melhores gazelas educam cedo os gemidos. Em vez de gritos que parecem mais apropriados para momentos de sequestro-relâmpago, a boa moça sussurra e balbucia safadezas no cangote do amado. Mais vale um dos 3.000 verbetes catalogados no Dicionário do Palavrão do que os decibéis selvagens dignos da turbina de um boeing. As melhores não se desesperam. Já imaginou Ava Gardner em desespero? E não me venha dizer que isso seja frigidez, frescura ou algo do tipo.

Uma coisa é a gritaria, quase um SOS, incêndio do Joelma.... Outra é a gemedeira gostosa, fungada sentida, fogo nas entranhas, calor na bacurinha, quase um decassílabo a cada descida, lirismo sem fôlego, asma do amor.