domingo, 11 de julho de 2010

O sentido dos bjs por e-mail

Nunca me aventurei em textos com personagens, mas aí vai um. tentem achar a moral da história.

Pela primeira vez ele trocava e-mail com a sogra. Precisava acertar com ela os detalhes da festa surpresa pra celebrar os 30 anos da mulher dele. Leu e releu a mensagem repetidas vezes. Queria se certificar de que não havia erros. Não podia permitir nenhum deslize no português. Claro que não. Era um escritor. A sogra suporia que ele não sabia escrever. Aquele inútil. Só faz isso na vida e ainda faz errado. Um erro no e-mail mostraria fraqueza na única coisa que achavam que ele sabia fazer.

Releu pela quinta vez. Era uma mensagem clara e bem redigida. Curta. Achou que ela ficaria bem impressionada. Aí chegou no final. Caramba! Como terminar? A primeira mensagem havia sido enviada por ela. E ela colocou um bjs no final. Só que ele odiava essa linguagem de internet. Ele escrevia tudo sem abreviaturas. Beijos em vez de bjs. Abraços em venz de abs. Você em vez de vc. Mas escrever beijos no e-mail à sogra era demais. Ele estaria dando... beijos nela. Enviando beijos a ela. Imaginou-se beijando-a repetidas vezes. Arhg! Afastou a cena para longe.

Pensou bem. Bjs era muito mais apropriado. Bjs era apenas um final amistoso num e-mail entre pessoas que precisam ser amistosas. Bjs não são beijos. Ele não estaria dando beijos na sogra se escrevesse bjs. Bjs é impessoal. Não estala no rosto. Não tem biquinho nem baba. Muito menos língua. Bjs é a solução.

Outra saída seria apenas subscrever o e-mail. Colocar na úçtima linha o seu primeiro nome seguido de um ponto. Mas isso poderia soar meio rude. Afinal ela enviou bjs a ela. Decidiu ligar para um amigo. Pedir uma opinião. O amigo estava no escritório e começou a rir às gargalhadas com um problema tão patético. O amigo jamais compreenderia. Nem sogra ele tinha. Era solteiro. O escritor tentou explicar. Imagine uma gerente de outro departamento aí na sua empresa. Vocês estão tratando de negócios por e-mail. Você quase nunca fala com ela. Mal a conhece. Então você apenas escreve obrigado e põe o seu nome no final dos seus e-mails. Simples. Mas se você fala de vez em quando com ela é diferente. Vocês não são amigos. Porém se falam ao menos uma vez por semana. Por telefone ou por e-mail. Assuntos profissionais. Então o apropriado é escrever bjs no final. Beijos seriam inapropriados. Entendeu? O amigo não falou nada. Mas se deu conta de que também ele inconscientemente agia assim. Só não admitiu. Então coloque bjs para sua sogra. Já que o problema é esse. Puta problema besta. E eu agora preciso desligar. Tchau.

Pensou: escrever bjs consegue ser melhor até que usar somente bj. Porque bj é mais palpável. Significa um beijo. Mesmo abreviado. Já bjs é infefinido. Incontável. Não se pode dar bjs numa pessoa. Ninguém pensa nisso. Era a melhor solução. Então porque ele não a adotava logo? Bem, tinha seus impedimentos. Sempre discursou contra as abreviaturas. Agora como ele teria coragem de colocar bjs num e-mail seu? Ficou ali minutos intermináveis sem achar uma saída. Já estava impaciente. Levantou da cadeira. Foi até a janela. Voltou e se sentou. Acendeu um cigarro. Começou a escrever vários finais para ver se um se encaixava. Quase todos esdrúxulos. Atenciosamente. Até mais ver. Agradecido.

Ficou mais inquieto ainda. Pegou outro cigarro. Começou a escrever uns finais absurdos e ofensivos. Do nada. Sem o menor motivo. Do tipo vá se fuder. Pau no seu cu. Escrevia e apagava. Pega no meu pau. Escrevia e apagava. Velha de merda. Escrevia e apagava. Até que sem querer resvalou o mouse no send depois de escrever e antes de apagar beijos no seu corpo todo.

Moral da história...... comente