sábado, 25 de abril de 2009

Aqui. Agora


Por mais clichê que possa parecer, leia até o fim :)

Gosto de um pensamento essencial do zen-budismo (alguém me disse que era). Mais ou menos assim: o passado já passou. Não importa mais. Para que ficar pensando nele, para que se atormentar com o que já aconteceu? O futuro ainda não existe. Para que se preocupar ocm ele, se não temos idéia do que será o amanhã? O que há de concreto é o presente. O aqui e agora. Viver concentrado no presente, sem voltar inutilmente a mente para o passado nem encaminhá-la também inutilmente para o futuro, é parte da resposta para quem tenta livrar-se das aflições, ansiedades, amarguras que fazem parte da vida de todos nós.

Acho que esse jeito zen de ser teria muita utilidade na vida romântica. Quanto tempo os casais não perdem em brigas e sofrimentos por causa do passado ou do futuro? Esse tempo desperdiçado poderia e deveria ser desfrutado alegremente se vivêssemos o presente, se nos focássemos em aproveitar o que está aconteecendo aqui e agora. Hoje você me ama e eu amo você, e estamos uito felizes por ser assim. Uma atitude baseada nesses pontos elementares traz felicidade. Mas o que acontece quase sempre é exatamente o oposto. Recriminações e amarguras mútuas por coisas passadas. Preocupações muitas vezes neuróticas com um futuro cuja existência está apenas em nossa cabeça. Então jogamos cruelmente no lixo o que poderiam ser momentos de prazer. E optamos, por força de uma mente que se agita como um cavalo selvagem, pelo sofrimento. Isso não é deliberado. É involuntário. Mas a dor é a mesma.

"O.k., MuMu", você pode perguntar, "mas o que posso fazer para mudar?" Eis uma boa pergunta, para a qual não tenho uma resposta precisa, somente algumas pistas. Uma dessas pistas me sugere que talvez diminuíssemos consideravelmente nossa dor se procurássemos entender que tudo é impermanente. Há um tempo para nascer e outro para morrer. Há um tempo para florescer e outro para decair. Tudo o que se ergue se destrói. Tudo passa. A juventude. O vigor. O cargo.A carreira. Esse blog onde eu digito minhas ridículas opiniões. O amor. Isso é a impermanência. Na tentativa desesperada de deter o que não pode ser detido, sofremos intensamente. E em vão. Tente segurar a água nas mãos. Ela escorrerá, quer você queira ou não. Tente segurar o ritmo da vida. Também não adiantará. Se compreendemos a i mpermanência e, ainda mais que isso, a aceitamos, estamos preparados para viver o aqui e agor ano amor. E em tudo o mais. O amanhã? Quem sabe? E o que interessa? Sobretudo: quem o controla? Se não bastasse tudo isso, ele está tão distante não é? Amanhã você vai estar junto da mulher que tanto ama hoje? Você pode se atormentar com essa dúvida e estragar grandes momentos. Ou pode apenas gozar o presente. Experimentar a eternidade de um instante que se desvanecerá com a rapidez com que uma onda se desfaz ao chegar à beira do mar, mas cujo encanto perdurará num tocante e poético desafio à impermanência. O aqui e agora.

E então olho para o espelho. Vejo quantas coisas perdi, na vida amorosa, por estar preso ao passado e cheio de insegura ansiedade em relação ao futuro. Tantas passagens que poderiam decorar gloriosamente as paredes de minha memória foram manchadas por minha incapacidade de abraçar apenas o presente. Tanta felicidade ao alcance de meus dedos e no entanto a opção cega pela dor, pelo medo, pelo rancor. Sinto uma vontade excruciante de pedir desculpas a quem feri por não conseguir viver o aqui e agora. Eu achava que sabia muito sobre o amor e era um ignorante pretensioso. Ainda sou. Mas você só pode enfrentar a ignorância se reconhecer primeiro que é ignorante. Reconheço. A caminhada é longa e árdua. Exige disciplina, exige esforço da mente, exige concentração. Mas, como dizia meu sábio tio butequeiro do interior, toda jornada começa pelo primeiro passo.

PS.: como eu queria seguir tudo que escrevo :/

PS 2: Idéias para o texto tiradas depois de uma longa e boa conversa com um grande amigo pelas madrugadas da vida. :)

domingo, 19 de abril de 2009

A esquina

O mundo cabia ali, naquela esquina. Meus amigos e eu naquela esquina. Paaso por ela em minha mente, tantos anos depois, e revejo por um instante os rostos jovens, inocentes e cheios de esperança da turma que se reunia na esquina. Éramos jovens, éramos imortais, éramos os invencíveis. O Totó, o Zezé, o Banus, o Minhoca, o Ed, o Artime, o Pepê. O Belisco e o Maguila. Cada um de nós têm na memória dois ou três lugares que definiram uma época, uma ida, um sonho. Aquela esquina é, para mim, um desse slugares sagrados.

Meus amigos. Descer a minha rua para encontrá-los na esquina era um grande programa. Eu podia contar com meus amigos. Eles podiam contar comigo. Éramos um só. Isso acontece apenas em momentos especiais. Você e seus amigos como um todo. Depois a vida como ela é se apresenta e os amigos se dispersam. Ficam fragmentos, às vezes. Mas a verdade é que aquela proximidade, aquela intensidade, aquela intimidade, aquela cumplicidade, isso fica lá pra trás. Existe um momento solene e impassível de repetição em que os amigos e nós somos um só, e exatamente por isso podemos enfrentar tudo. A minha esquina. A nossa esquina. Ríamos muito. Encontrávamos em tudo motivos pra rir. Amigos riem muito. Basta às vezes um olhar. Todos entendem o significado desse olhar mudo e todos caem na gargalhada. Muitas vezes o humor entre amigos vem simplesmente do nada. Como diz meu sábio tio butequeiro, um homem sábio do interior, a mais legítima prova de amizade está na risada sem motivos. Nós ríamos com motivo e sem motivo na esquina.

E flertávamos também. Lá vinha a Ana Estela com seus olhos assombrosamente azuis. Mais azuis do que um céu de verão adolescente, juro. Ela e outras meninas passavam a uma prudente dstância de nós. Jamais na mesma calçada. Mas a verdade é que estávamos muito mais ocupados em rir do que em namorar. Depois que crescemos um pouco os risos se alternaram com inquietação. Foi na esquina que recebemos, perplexos, a notícia de que o Badô tinha se matado. Virou o revólver contra a cabeça e apertou o gatilho. Um pouco mais velho que nós. Drogas. Aprendemos muita coisa sobre a vida na esquina. Agora também aprendíamos sobre a morte. A morte absurda, jovem, estarrecedora. Outras baixas haveriam. O Edu numa briga. O Mingo numa moto. Talvez não fôssemos tã imortais quanto supúnhamos.

E eis que a esquina como um ponto mágico um dia se perdeu. Tento lembrar se houve uma última vez, um último encontro. Não, não houve. É como se um dia tivéssemos combinado de nos encontrar no dia seguinte na esquina e, por alguma razão insondável, simplesmente não tivéssemos comparecido. Melhor assim. Imagino, olhando para trás, como teria sido dura uma despedida de nós e de nossa esquina, um dia tão amada como a mais amada das namoradas. Ninguém se despede da inocência sem tristeza e dor. E então me ocorre que se por um momento eu pudesse voltar a ser garoto, correria à esquina e diria a meus amigos: "Amo vocês. Obrigado por tantas coisas boas." Nós não nos despedimos. Apenas um di adeixamos de aparecer naquela esquina em que cabia o mundo, e à qual às vezes volto, na imaginação e na saudade, em noites frias e escuras na busca do calor e da luz que a mera lembrança dos meus amigos traz.

Agor aminhas esquinas voltaram a existir, um pouco diferentes de uma esquina real, mas com o mesmo sentimento da minha esquina antiga, Minha esquina chamada MSN onde eu encontro com meus amigos que ficam longe de mim, minha esquina na casa do Gudin, onde eu me divirto tocando forró (sim, exatamente isso, eu me divirto tocando forró), e onde as risadas sem motivo revivem novamente, minha esquina chamada "meu quarto", onde meus amigos passam noites e noites conversando até as 6 da manhã, rindo de um ronco ou de um peido, coisas idiotas que fazem da minha vida algo que valha a pena se lembrar.

Enfim, que essas esquinas não se desfaçam mais, nunca mais. Desculpe pelo texto longo.

:*

domingo, 12 de abril de 2009

Amizade e hipocrisia.

Bem, esse texto talvez seja um pouco controverso, mas é legal analisar as coisas por um outro lado.

Eu confesso: não sou amigo de ex-namoradas. Ao contrário de outros caras, não faço o menor esforço para manter a amizade de quem saiu da minha cama... ops, digo, vida, dos meus pensamentos e da minha agenda. Não é por raiva, não é por mágoa, não é por revanche. É simplesmente por desinteresse. O elo que nos uniu foi rompido na separação. Aquela vontade de estar junto, de compartilhar as pequenas coisas do cotidiano, de trocar um olhar furtivo e cúmplice no meio da multidão perdeu-se. Não sobra base nenhuma em cima da qual construir uma relação de amizade. Quem já foi tudo para alguém é melhor que se transforme em nada, com a ruptura, e não em pouco.

Não estou dizendo que se deva ser rude, tosco, bruto. Não advogo aqui que se vire o rosto pro lado num reencontro fortuito. Ou que se bata o telefone na cara ao ouvir aquela voz cujo timbre, poder e influência tiveram tanto significado pra você. Também não prego que se lancem calúnias sobre ela e, embora seja grande a tentação, sobre ele, o novo homem. (Porque o novo homem é inapelavelmente um perfeito idiota, um canalha absoluto.) E acho uma tolice, na separação, pegar por birra, e só por birra, os livros e os discos que você sabe que são os prediletos dela. Tudo isos seriam provas de um espírito fraco, vingativo. O que recomendo, e pratico, é a indiferença. A indiferença pode ser natural, o que é a melhor opção. Ou pode ser também cultivada, caso a namorada perdida continue a ter presença em seus pensamentos. O que se deve evitar, enfim, é a continuação empobrecida, sem sentido e quase sempre hipócrita de uma relação que se acabou.

Por mais que se diga e que se finja que não, um homem só é genuinamente amigo de outro homem. O pequeno grande código da amizade não mistura homens e mulheres. Imagine dois amigos num bar, falando de futebol. Mais especificamente do soberbo futebol que alguns clubes têm praticado ultimamente. A descrição da série endiabrada de dribles daquele jogador é bruscamente interrompida quando uma mulher gostosa passa diante dos dois amigos. Ambos olham pra ela, depois um para o outro, e então vem um sorriso que diz e resume tudo. E enfim se retoma a conversa paralisada: isso é o retrato da amizade entre dois caras. É impossível reproduzir essa situação quando se trata de um homem e uma mulher. Logo, não há chance de amizade. Eu citei uma situação clássica, na verdade odeio futebol. Mas há dezenas de outras, que vocês conhecem tão bem quanto eu. E sei que o inverso é também verdadeiro: uma mulher só é realmente amiga de outra mulher. (Embora a inveja e a rivalidade entre as mulheres, em geral num grau acentuadamente maior do que o que se verifica entre nós, atrapalham muitas amizades. Mas isso é problema delas, não meu).

Uma relação entre um homem e uma mulher pode ser divina. Uma das maiores bençãos que os deuses concederam ao homem é estar dentro de uma mulher amada, unidos no corpo, unidos na alma, num lapso de tempo que, embora precário, se confunde com a eternidade. Uma dupla, metade masculina e metade feminina, pode formar um universo de enlevo, êxtase e inspiração. Mas a amizade fica de fora. Sejamos objetivos: o único amigo genuíno que uma mulher pode encontrar no gênero masculino é, até para reproduzir a situação clássica masculina, aquele que há de compartilhar com ela um olhar cúmplice de admiração quando irromper um homem considerado bonito oO.

Enfim, claro que muitas pessoas não concordarão com isso, até muitos homens. E queria que não me levassem a mal, não sou tão ranzinza quanto pareço, eu acho.

Fikdik.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Nosso amor de ontem

E então alguém fala de você. Tantos anos se passaram não é? Éramos adolescentes e estávamos descobrindo aqulea coisa ao mesmo tempo gloriosa e miserável chamada paixão. Ao ouvir seu nome, que em outros tempos teve o poder de me tirar o fôlego e o equilíbrio, empreendi uma viagem no tempo. Vi você menina que se tornava mulher: os olhos verdes que enfeitiçaram a mim e a quase todos os meus amigos, o sorriso confiante de quem não teme obstáculos, a alegria soberba de quem é jovem e imagina que jamais vai deixar de ser.

Vi você naquela festa de uma amiga sua para a qual você, para minha alegre surpresa, me convidou. Aquela festa é a melhor cena que guardo dos breves e intensos e coloridos momentos de nosso amor de ontem. O vestido azul sobre a camisa amarela. Parecia uma escoteira. Era uma festa chique para meus padrões de classe média. Eu me sentia intimidado por tudo. Por seus amigos ricos, pela elegância do salão, por você mesma. Sim, eu me sentia intimidado por você. Anos depois, entendi que o medo de perder você me fez perder você. Mas éramos adolescentes naquela festa, não éramos? Como entender sutis mecanismos psicológicos?

O que sei é que você estava maravilhosa. A menina mais linda da festa. Ainda que houvesse concorrência, eu não tinha olhos pra mais ninguém. (Ao escrever isso, me vem à cabeça uma canção romântica americana: Through Her Eyes. Eu queria que esse blog tocasse essa canção tão perfeita). Eu só tinha olhos pra você. E então você me chamou para dançar. Se eu não fosse tão inseguro, se não me achasse tão pior e menor que você, acho que já teria percebido seu interesse por mim. O convite para a festa foi uma pista e tanto. Sábado à noite. Ninguém convida ninguém para uma festa sábado à noite sem um motivo claro. E então vejo a mim memso naqueles dias: um carro velho emprestado por meu pai. Roupas herdadas dos meus primos. E o andar ligeiramente trôpego de alguém totalmente inseguro e sem saber o que fazer. Tudo isso e mais o sonho tornado vão de escrever livros como os de Stephen King.

Só acreditei que você sentia alguma coisa por mim quando nos beijamos. Acho que partiu de você a iniciativa. Todas as iniciativas partiram de você. O começo e o fim. A retomada frustrada. A dedicatória de um livro na qual você dizia que era impossível me entender. Mas não queros lembrar momentos tristes. Meu desejo é recapitular aquela festa. O beijo. O primeiro de verdade. Não podia ser verdade. Tento encontrar palavras que descrevam a minha sensação de triunfo quando os nossos lábios se uniram, mas todas as que me ocorrem parecem diminutas diante da enormidade daquilo que me assaltou a alma. Rio agora diante do pensamento de que a reação mais lógica que eu poderia ter depois do beijo era, simplesmente, dizer obrigado.

Alguém diz seu nome, tanto tempo depois. E eu tolamente a reconstruo garota. Não, o tempo não desfez aquele frescor, aquela maciez, aquela beleza clássica. Não, a vida não frustrou seus sonhos ingênuos de menina. Não houve dor, não houve sofrimento, não houve separação, não houve perdas para você. Não houve doença. Fico pensando nessas coisas bobas e não alcançáveis. Por um instante acredito que o tempo parou, magicamente, quando você era a menina mais linda de todas. Talvez seja meu agradecimento desajeitado a tantos momentos sublimes que você me proporcionou. Talvez seja apenas mais um tolice entre tantas as que tenho feito. Sò lamento que você nunca lerá isso.