segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Você é apenas um menino.

Andei lendo meus textos de 2007 e como sei que muita gente que lê hoje não lia antigamente vou repostar um dos meus textos preferidos daquela época. Enjoy.

Você é um menino. Treze, catorze anos. Inseguro, tímido. Começa a se interessar pelas mulheres. E não vai demorar para perceber que mulheres e problemas aparecem juntos em sua vida. Você não sabe lidar com o mundo novo no qual está entrando. Sua voz está mudando. Os pêlos estão aparecendo. O futebol já não é seu único interesse. Aparecem os primeiros bailes. Você não sabe direito que roupas escolher. As sugestões de sua mãe lhe parecem horríveis. Mãe nunca acerta na roupa do filho, uma lei tão velha e tão eterna quanto as estrelas no céu e as ondas no mar. Ser criança era muito mais fácil.




E então você olha para os garotos um pouco mais velhos. Eles estão nas classes um ou dois ou três anos mais adiantadas que a sua. Seu olhar mistura admiração e inveja. Eles parecem tão seguros. Tão confiantes. Alguns ameaçam um bigode, uma barba. A voz jha está definida. E as meninas da sua classe estão apaixonadas por eles, não por você. Eles são mais altos que você. Eles são melhores que você. Já devem até ter dormido com alguma menina. E você jamais viu uma mulher nua que não fosse sua mãe ou não estivessse numa revista. Eles se libertaram daqueles programas sem graça com a família. Mas seu dia chegará. Os dias hão de passar. Você vai crescer e seus problemas desaparecerão. Você será um homem firme, forte, como os caras mais velhos.



E eis que você é como eles. Os caras maiores que você via de longe. Você imaginava que sua vida seria outra. Mas não foi bem assim. Você cresceu, sua voz engrossou. Você até viaja sozinho, sem os pais, com os amigos. A virgindade ficou pra trás, mas você já percebeu que o sexo não é o fenômeno extraterrestre que você pensava ser antes de experimentá-lo. É bom, às vezes muito bom, algumas vezes ótimo. Mas não é coisa de outro mundo. A terra não treme sempre ao se fazer sexo, ao contrário do que você sonhava. Você já é um homem. Ou quase um homem. E pensava que a segurança máscula viesse com o tempo, com a mesma naturalidade com que a terra se molha quando vem a chuva. Mas não.



E então você olha para os homens feitos. Formados, empregados. Alguns casados. eles, sim, são os típícos homens. Basta olhar para o andar seguro, o olhar firme. Eles não têm dúvidas, não têm medos como você. Os mais ricos têm carros chiques. Pagam com cartões de crédito, e não com o dinheiro pedido a seu pai, como você. Uns vestem gravatas que devem valer duas mesadas suas. Alguns têm um cartão em que estão escritos os nomes e o cargo. Nada parece ser capaz de abalá-los. Eles não sentem vontade, nas noites escuras, de pedir um refúgio na cama de seus pais. Você sente, às vezes. Seja honesto: você fez isso outro dia.



Seu dia chegará. E chegou. Você se formou. Arrumou um emprego promissor. Tem um cartão profissional. O carro podia ser melhor, mas é bom. Tem ar-condicionado e som. O namoro é firme. Deve terminar em casamento. Seu armário tem até um blazer Armani que você comprou num momento de entusiasmo e desvario. Mil reais. Você parece o cara mais seguro do mundo, como todos os seus colegas e amigos. Mas só parece. Lá dentro continua uma criança, como todos os seus colegas e amigos. Todos disfarçam bem. Todos aprenderam que ser homem é ser forte. Você queria gritar socorro, mas não convém demonstrar fraqueza. Você queria se abrigar no colo de seu pai, mas ele já não está lá. E então você ri, porque a vida é mesmo engraçada, repleta de crianças fingindo-se de homens até o último dos dias.

domingo, 21 de agosto de 2011

Existe vida numa relação sem sexo?Vocês estão juntos há um tempão e se amam. A conta conjunta está no vermelho, a sua prima é amiga da tia dela, vocês compraram uma casa. Com tudo isso, qual o problema de, num domingão, em plena sessão de cinema no sofá, dar mais vontade de ficar deitado juntinho do que de transar? Nenhum, se isso acontecer uma vez ou outra. O problema começa quando só se tem vontade de ficar juntinho. Piora se, depois de várias reprises dessa cena, um dos dois muda de opinião sobre ser tão gostoso assim apenas ficar juntinho. E se torna insustentável na hora em que ela (ou você) se sente um lixo erótico, a versão humana do peixe-boi.

Ela o apóia nas horas complicadas, implica com seus amigos, te pentelha se sente seu bafo de cachaça e não rola a menor tensão sexual entre vocês? Então você não tem mais uma mulher: tem duas mães.

Sentir-se desejado é tão vital quanto vitamina C: um agarrão inesperado, uma sacanagem ao ouvido fazem o dia valer a pena, reluzem o ego. A ausência desses pequenos carinhos e, mais tarde, do ranger da cama, é um tremendo indicador de que tem algo bem errado na relação.O tesão é a demonstração instintiva do quanto queremos aquela pessoa perto, dentro, misturada a nós. Ou do quanto não fazemos questão disso. Já passou da hora de acabar com essa hipocrisia de que, depois de um tempo, o sexo se torna desimportante para os casais. Como assim? Quer dizer que num determinado momento viramos samambaias? Não, mas nos tornamos peritos em negar o óbvio: a relação está, sim, na UTI.

É impossível não ficar abalado quando nosso parceiro e o abajur surtem o mesmo efeito sobre nossa libido, mas é possível ignorarmos os sintomas e continuar "nos dando superbem". A vaca vai de vez pro brejo quando buscamos em outros corpos os toques, beijos e orgasmos ausentes e tão necessários.

Será que vale a pena viver comendo fora ou menosprezar a própria sexualidade em prol de um relacionamento estável?

Não, não vale. Cedo ou tarde ele deixará de ser estável para ser penosamente estabilizado (e dará cada vez mais trabalho, feito carro consertado em mecânico ruim). Existem, sim, diversos fatores essenciais numa boa relação: cumplicidade, amor, apoio, carinho, mas isso tudo é insuficiente sem tesão. É como biscoito de polvilho: é até gostosinho, mas não mata a fome. É preciso muito mais sustança.

E, uma noite, adormecemos angustiados ao lado da pessoa que escolhemos para tornar a vida melhor, mais clara. Nos damos conta de que viramos amiguinhos. Somos tomados por uma insatisfação que nada consegue sanar: nos sentimos incompletos por vivermos numa farsa particular. E entristecemos, porque é mesmo doloroso notar que não bastam amigos, filhos, móveis e lembranças para sermos felizes ao lado de alguém: nenhum passado em comum salva um presente inegavelmente divergente. Não basta a vontade de ficar juntinhos no sofá: tem que existir desejo. E, se ele estiver mesmo morto, o melhor a fazer (pelos dois) é aceitar que você a amará por muito tempo - um amor fraternal e cuidadoso -, mas que deve vagar seu lugar na cama.

Se dá pra ser feliz numa relação sem sexo? Claro que dá. Se você for uma orquídea.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

The new me

Dizem que as pessoas aprendem sobre si, ou tem a chance d escolher um caminho na adolescência. Que depois de velhos ou adultos, pra usar uma palavra menos pesada, não podemos aprender mais nada, nosso caráter já está formado.

Depois de uma noite sem dormir pensando sobre tudo, cheguei a conclusão que pelo menos tentar eu posso. Já sou velho, formado, com emprego, etc. Mas acho que a frase "nunca é tarde pra tentar algo novo" vem bem a calhar no momento.

Sabe a sensação de que por mais que você tente, as coisas não funcionam? Por mais que você se esforce, claro, do seu jeito, porque isso é algo bem subjetivo, as coisas sempre voltam contra você? Por mais que você seja bom nada de bom você recebe. Depois de 7 anos preso a alguém, você se fode como se nada tivesse acontecido. Sei que vou rir disso um dia, mas vou rir quando eu estiver melhor, mais seguro, com o foda-se ligado e piscando igual sirene.

E pra chegar a esse ponto é o que vou começar a trabalhar a partir desse momento. Tentar ser mais seguro de mim, fazer as coisas pra mim, pensar mais em mim.  Estou errado? Qual o ponto em doar anos pra alguém e não receber nada em troca? É coisa de retardado. Fato. Então a partir de hoje, além de mim, só recebe de mim coisas boas, presentes, carinho, amizade, amor, quem merece. Caso contrário foda-se.

E também mudar no sentido de ser mais solto, mais sociável, mais cool. Vo trabalhar nisso. Se não der resultados, ae eu vou ver que o problema não é comigo. Nem nunca foi. Claro que mudar meu jeito não vai mudar quem eu sou. Eu vou continuar sendo o amigo de sempre, o cara de sempre, mas com atitudes diferentes. Será que ficou claro? É tipo a mesma coisa mudar a decoração da sua casa. Você se sente em um lugar diferente, mas mesmo assim ainda se sente como seu lar, o de sempre. Enfim, depois dos acontecimentos desse fim de semana, acho que tá na hora. Quem tava comigo fique a vontade pra continuar comigo, esses vão ser lembrados sempre, e não vão se arrepender.

7 anos são uma vida, algo que pra ser jogado fora assim, do jeito que foi, porra. Vou ter que reaprender muita coisa, e espero que meus amigos me ajudem nessa tarefa. Acho que é isso.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Terceiro Ato

Aos 10 anos, eu acreditava que a idade adulta começava aos 20. Aos 20, achei que ainda não havia chegado lá e decretei que adultos eram só com mais de 30. (Covenhamos, apenas seis primaveras depois da oitava série, você é, no máximo, um pós-adolescente: provavelmente ainda mora com os pais, deixa a toalha molhada em cima da cama e siglas como IPTU ou FGTS fazem muito menos sentido do que MILF ou THC.) Ao completar a terceira década de vida, contudo, não tive como protelar: alguns fios brancos no queixo, projeto de rugas nos cantos dos olhos e entradas moderadas avançando pelo couro - já não tão - cabeludo me atestavam, no espelho: eis aí um espécime maduro, acabado e plenamente desenvolvido de homo sapiens. E sabe o quê? Fiquei bastante contente com a descoberta.

A infância é terrível. Você precisa chamar as autoridades competentes até mesmo para limpar a bunda, é incapaz de organizar verbalmente as idéias mais rudimentares e, quando o faz por outras vias, como pintando a parede da sala com seu estojo de canetinhas, fica um mês sem sobremesa. A infância é uma espécie de condicional, após a solitária do útero. Uma liberdade vigiada, que deve te preparar para a próxima fase infeliz: a adolescência. Ser adolescente é mais ou menos como mendigar em Paris ou estagiar numa empresa bacana: você já está lá, mas não pode participar da festa; porque é duro, porque é nerd, porque é prego, ou porque tem que decorar o número atômico dos alcalinos terrosos e a função das mitocôndrias para a prova da Fuvest.

Só tive o que comemorar, portanto, quando terminaram essas duas fases de tutela e me vi finalmente livre. Aos 30, você escolhe bola, campo e o time em que quer jogar. Tá bom, pode reclamar que sua bola não é uma Jabulani, que o gramada está mais para uma várzea do Buracanã do que para o tapete do Camp Nou, que no seu time só tem perna de pau. Mas uma das vantagens da idade adulta é que, ao contrário da infância e da adolescência, que passam num piscar de olhos - ou num xixizinho e numa ejaculação precoce, para nos atermos a imagens mais condizentes com o assunto - , a maturidade dura quatro décadas; é tempo suficiente para se acostumar consigo mesmo ou para mudar a situação. E talvez seja essa a maior lição da maturidade: saber discernir entre as coisas que você pode e precisa lutar para mudar e aquelas que deve sipmlesmente aceitar. Na infância ou na adolescência, ser ruim nos esportes era algo que me atormentava. "Por que, ó, Deus, fizeste-me o último a ser escolhido em todos os times, na educação física?", eu perguntaria ao Senhor, se Nele acreditasse e decidisse importuná-Lo com meus resmungos. Hoje, isso é apenas um dado, quase indiferente, como ter cabelo castanho ou ser canhoto.

Se você está em torno dos 30, pode lutar durante os próximos 40 anos para realizar projetos e conquistar a(s) mulher(es) por quem estiver a fim, para correr uma maratona ou ganhar dinheiro; mas vai ter que aceitar suas orelhas de abano ou pernas finas, o fato de não ter lábia de Don Juan, a inteligência do Einstein, nem a conta do Bill Gates. E por que não aceitaria? O mundo é grande, tá cheio de gente interessante e tem um monte de coisa boa para fazer, mesmo não podendo pegar sempre a mais gata da festa, jamais descobrir uma segunda teoria da relatividade, nem comprar um iate, numa quarta-feira à tarde, se estiver um pouco entediado.

Três décadas. Dá o que pensar. Mas não tenhamos pressa. Como disse uma amiga minha: "Não se preocupe MuMu, os homens começam aos 30". Com calma, vamos aproveitar esse longo terceiro ato, antes que chegue o quarto - a velhice - e o quinto - sobre o qual não convém falar, por estar muito lá pra frente, só bem depois dos 90. Ou dos cem? Cento e dez? Cento e quinze, cento e vinte...

VIP (y)

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Imperfeito, graças a Deus.

Eu lembro quando eu assistia aquele programa da MTV alguns anos atrás, I Want a Famous Face. Dois irmãos gêmeos queriam ficar com a cara do Brad Pitt. Tudo o que conseguiram foi ficar com a cara do Brad Pitt - só que de um desenhado por uma criança de 3 anos. No outro episódio, o sonho da garota era virar a Pamela Anderson. Veja só: ela queria parecer com alguém que já parece ter sido feita em laboratório. Mas enfim, foi lá, colocou silicone, injetou gordura na boca pra ficar com aquela expressão eterna de tesão de mulher em capa de filme pornô e saiu esfuziante. Finalmente, não era mais ela mesma.

Até onde vai chegar essa falta de amor por si próprio, essa negação de si mesmo?

Não existe mais lugar para o imperfeito. Algo nos faz acreditar que só seremos dignos de atenção, de amor, se tudo em nós for acertado, milimetricamente dimensionado, duro e liso. A mentira das fotos de revista virou verdade: não importa que aquelas coxas magníficas da fulana e a barriga de tanque do sicrano foram resultados de horas e horas de correção por computador; o que importa é o que se vê. E isso assusta, porque é meio difícil ficar igual a algo que não existe. A realidade sempre estará aquém do referencial. Pior: o real esvaziou-se de importância. Não interessa se você tem dinheiro, cultura, sucesso. Interessa, isso sim, se aparenta ter.

Cada vez mais gente troca a individualidade pela aprovação dos outros e se torna um clone fajuto de seres pré-aprovados pela platéia ou uma versão mentirosamente melhorada de si mesmo. Por fora, bela viola; por dentro, pão bolorento (quem tiver mais de 25 anos já deve ter ouvido esse ditado).

Não vejo problema algum em acertar um nariz torto, levantar peitos caídos, ou dar uma arrumada no que eu arrumei (sim, eu já arrumei, mas ninguém precisa ficar sabendo o que MUAHAHA). O que me amedronta é essa insanidade que leva a um tipo inédito e estúpido de mutilação, a mutilação pró-fama. O que são dores, anestesia, o período angustiante de recuperação perante a cara de espanto dos amigos, o despeito das amigas, os futuros flashes? Nem para os índios na época do descobrimento o espelho era tão fascinante. Eles trocavam ouro pra ter um pedaço de si refletido. Hoje em dia, troca-se de rosto, de corpo, por elogios, muitas vezes fajutos.

Jamais fomos tão carentes de aceitação. Nunca fomos tão egocêntricos.

Adoraria perder uns quilos. Chegando aos 30, também seria legal outras coisas. mas não deixo de me sentir interessante, digno de receber elogios, amor, porque a calça, ocasionalmente, não fecha. Não me acho um lixo porque comprovo diariamente a existência de homens mais sarados e fortes e com cabelos bons do que eu. Gosto de ser quem eu sou e prezo quem tem a mesma relação consigo mesmo - pobres (e chatas) as pessoas que se odeiam por não atender às expectativas alheias.

As débeis que vendem até a alma para ter a bocona da Angelina Jolie ou a cintura da HAlle Berry deveriam saber que a primeira se divorciou porque o marido transava até com a fruteira e a segunda vive sozinha porque não controla o próprio ciúme. Ter dimensões e formas idealizadas não livra ninguém da infelicidade. Apenas o transforma num infeliz bonito na foto.

Uma coisa é certa: seríamos muito mais felizes se investíssemos em terapia o que gastamos sugando banha e esticando a cara.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Conte com você mesmo

Uma cena de Beleza Americana me impressionou particularmente. O filme todo é bom, aliás. Tenho que vê-lo de novo. Acho comovedora aqula busca desesperada e vã do homem pela juventude perdida. Mandar para o lixo a carreira bem-comportada depois de uma conversa franca com o chefe e ir trabalhar numa lanchonete, sem metas e cobranças que fossem além de entregar com um sorriso um hambúrguer para o freguês. Comprar um carrão imprestavelmente lindo de 20 anos atrás apenas para realizar um sonho que ficara lá longe num mundo que se perdera. E correr atrás de uma garota como se fosse, ele próprio, um garoto, e não um homem vencido pelo correr dos dias. Braços remando contra a correnteza. Somos condenados a remar contra a correnteza, e só não encerro essa digressão porque me ocorre uma frase cortante como a melhor espada samurai: o tempo nos tira as certezas que temos na juventude e, ao perdê-las, vai com elas uma ousadia petulante que é maravilhosa por ser ingênua. E essa é a maior das maldades do tempo, ainda que as certezas fossem, todas elas, erradas.

Mas era sobre a cena da primeira sentença que eu queria falar. A mãe frustrada, que imagina encontrar a resposta para um casamento miserável nos braços de um amante rico e engomado, diz para a filha depois de uma briga conjugal que terminou com pratos lançados na parede: "Você aprendeu a maior de todas as lições. Você aprendeu que tem que contar apenas com você mesma". Quando narrei esse episódio a um amigo, ele disse:"Sócrates não teria falado nada melhor".

Temos que contar com nós mesmos, e no entanto quase sempre depositamos nossa felicidade (ou nossa infelicidade) nos outros. Ninguém pode nos ajudar se nós próprios não nos ajudamos. Ninguém mesmo: nem a mãe, o pai, o amigo, o irmão, a namorada ou a mulher. Ninguém. Vivemos num mundo onde a solidão é tratada como um estigma, um mal a evitar. Algum sábio homem disse que jamais estava menos só do que quando estava só, entregue às reflexões. E no entanto poucas coisas nos enchem de tamanho horror quanto a solidão. É porque não contamos com nós mesmos. E assim - e lá vou eu para mais uma de minhas citações - estamos sempre fugindo de nós mesmos.

A única coisa que temos sob nosso controle somos nós. Nossa mente e nossas ações. O resto, não. Sua namorada deixou você? é triste, se você gostava dela, mas, se você tem presente que deve contar mesmo é com você próprio, esse é um episódio de tranquila superação. Não está no seu controle obrigá-la a amá-lo até o último dia. Sob seu controle está você mesmo. É com você mesmo que você deve contar. Não pode haver mais sólido refúgio do que esse contra as adversidades e incertezas da vida. Foi isso que, naquela cena de Beleza Americana, a mãe disse à filha. Era uma mulher histérica, descontrolada, falsa. Mas, vale a repetição, nem Sócrates poderia ter dito uma coisa mais sábia à garota arrasada.

Pena que eu nunca sigo meus próprios conselhos. :/

sábado, 19 de março de 2011

A cueca, não!

Eu nem era nascido quando a mulherada começou a queimar sutiãs. Foi o pontapé inicial no nosso saco machista. Jóia. Fizeram bem: não dava pra ficar o tempo todo na cozinha com o mundo virando de pernas pro ar nas ruas. Só que a partir desse dia, inferno, elas foram atacando todas as nossas fortalezas. Começaram a dirigir direitinho. Foram jogar futebol. Aprenderam a arrotar o alfabeto. Entraram pro exército. E também pra PM, coisa que até hoje desconfio ser pouco eficiente no combate ao crime: há sempre o risco de confraternização com o inimgo.

Bom, até aí, legal. Estamos mesmo no século 21. Porém, comecei a desconfiar que tudo estava indo pro vinagre quando vi no jornal um trio de arbitragem feminino apitando futebol profissional. E não só apitaram, como ouvi dizer que rolou três beijinhos antes do jogo, como se futebol fosse chá-bar. Ali, ainda achei que não tínhamos perdido o controle da situação por causa da bandeirinha. Na época falou-se muito dela, do rosto, das pernas. Ainda bem, a estética ainda a mantinha como mulher.

Então descobri que um dos novos baratos entre as garotinhas de até 18 anos é usar cueca. Dizem que fica simpático, confortável, é meio andrógino - e por isso sedutor. Ah, pera lá: cueca, não. Cueca é sagrado. É o que dá sorte no reveillon, nos protege do zíper assassino, é a nossa surpresa na hora de tirar a roupa pra amada. A calça vai pro fundo do armário assim que surgem os primeiros quilos a mais. A cueca permanece, fiel. As mulheres usarem cueca é golpe baixo. A gente não tem como revidar. Podemos cozinhar melhor, apitar jogo de vôlei feminino, costurar, bancar os cricris, etc. Agora, usar calcinha? Aqui, ó. Nem no carnaval de Olinda. E não me venham com acusação de machismo, não é isso. Elas é que estão virando machistas, de tanta ganância feminista.

Sério: eu prefiro as mulheres do lado de lá; são muito mais bonitas permanecendo mulheres. Elas lá, nós cá, de vez em quando nos encontrando em lugar neutro e macio. Negócio mais lindo que é um cabelo cheiroso, uma calcinha de algodão, uma insegurançazinha, uma crise de TPM, um cabeleireiro de sábado. Chegou a bater certo desespero em mim. Comecei a listar diferenças entre os sexos. Itens sem grande importância, como a fimose e a tradicional coçada. Lembrem-se: eu estava desesperado.

Belo dia, me acalmei ao ver na TV um show no Cavern Club de Liverpool. No palco, gente de respeito. Paul McCartney no baixo e David Gilmour na guitarra. Pensei: sabe quando seria juntar lendas vivas de qualquer coisa, todas mulheres? Nunca. Elas se matariam no primeiro ensaio. As mulheres são lindas, são ambiciosas, são capazes, blablablá, mas ô gênio sangue-ruim. A gente é disparado mais legal - e a maioria delas próprias concorda. Ufa: a vaga de macho é nossa.