terça-feira, 12 de abril de 2011

Conte com você mesmo

Uma cena de Beleza Americana me impressionou particularmente. O filme todo é bom, aliás. Tenho que vê-lo de novo. Acho comovedora aqula busca desesperada e vã do homem pela juventude perdida. Mandar para o lixo a carreira bem-comportada depois de uma conversa franca com o chefe e ir trabalhar numa lanchonete, sem metas e cobranças que fossem além de entregar com um sorriso um hambúrguer para o freguês. Comprar um carrão imprestavelmente lindo de 20 anos atrás apenas para realizar um sonho que ficara lá longe num mundo que se perdera. E correr atrás de uma garota como se fosse, ele próprio, um garoto, e não um homem vencido pelo correr dos dias. Braços remando contra a correnteza. Somos condenados a remar contra a correnteza, e só não encerro essa digressão porque me ocorre uma frase cortante como a melhor espada samurai: o tempo nos tira as certezas que temos na juventude e, ao perdê-las, vai com elas uma ousadia petulante que é maravilhosa por ser ingênua. E essa é a maior das maldades do tempo, ainda que as certezas fossem, todas elas, erradas.

Mas era sobre a cena da primeira sentença que eu queria falar. A mãe frustrada, que imagina encontrar a resposta para um casamento miserável nos braços de um amante rico e engomado, diz para a filha depois de uma briga conjugal que terminou com pratos lançados na parede: "Você aprendeu a maior de todas as lições. Você aprendeu que tem que contar apenas com você mesma". Quando narrei esse episódio a um amigo, ele disse:"Sócrates não teria falado nada melhor".

Temos que contar com nós mesmos, e no entanto quase sempre depositamos nossa felicidade (ou nossa infelicidade) nos outros. Ninguém pode nos ajudar se nós próprios não nos ajudamos. Ninguém mesmo: nem a mãe, o pai, o amigo, o irmão, a namorada ou a mulher. Ninguém. Vivemos num mundo onde a solidão é tratada como um estigma, um mal a evitar. Algum sábio homem disse que jamais estava menos só do que quando estava só, entregue às reflexões. E no entanto poucas coisas nos enchem de tamanho horror quanto a solidão. É porque não contamos com nós mesmos. E assim - e lá vou eu para mais uma de minhas citações - estamos sempre fugindo de nós mesmos.

A única coisa que temos sob nosso controle somos nós. Nossa mente e nossas ações. O resto, não. Sua namorada deixou você? é triste, se você gostava dela, mas, se você tem presente que deve contar mesmo é com você próprio, esse é um episódio de tranquila superação. Não está no seu controle obrigá-la a amá-lo até o último dia. Sob seu controle está você mesmo. É com você mesmo que você deve contar. Não pode haver mais sólido refúgio do que esse contra as adversidades e incertezas da vida. Foi isso que, naquela cena de Beleza Americana, a mãe disse à filha. Era uma mulher histérica, descontrolada, falsa. Mas, vale a repetição, nem Sócrates poderia ter dito uma coisa mais sábia à garota arrasada.

Pena que eu nunca sigo meus próprios conselhos. :/

2 comentários:

Anônimo disse...

IMpossivel que pareça eo gostei desse post.. xD

Pedrao disse...

agreed. A gente simplesmente tende a depender do outro por instinto huahauhauahu mas viver forever alone é foda =xx