segunda-feira, 16 de maio de 2011

Imperfeito, graças a Deus.

Eu lembro quando eu assistia aquele programa da MTV alguns anos atrás, I Want a Famous Face. Dois irmãos gêmeos queriam ficar com a cara do Brad Pitt. Tudo o que conseguiram foi ficar com a cara do Brad Pitt - só que de um desenhado por uma criança de 3 anos. No outro episódio, o sonho da garota era virar a Pamela Anderson. Veja só: ela queria parecer com alguém que já parece ter sido feita em laboratório. Mas enfim, foi lá, colocou silicone, injetou gordura na boca pra ficar com aquela expressão eterna de tesão de mulher em capa de filme pornô e saiu esfuziante. Finalmente, não era mais ela mesma.

Até onde vai chegar essa falta de amor por si próprio, essa negação de si mesmo?

Não existe mais lugar para o imperfeito. Algo nos faz acreditar que só seremos dignos de atenção, de amor, se tudo em nós for acertado, milimetricamente dimensionado, duro e liso. A mentira das fotos de revista virou verdade: não importa que aquelas coxas magníficas da fulana e a barriga de tanque do sicrano foram resultados de horas e horas de correção por computador; o que importa é o que se vê. E isso assusta, porque é meio difícil ficar igual a algo que não existe. A realidade sempre estará aquém do referencial. Pior: o real esvaziou-se de importância. Não interessa se você tem dinheiro, cultura, sucesso. Interessa, isso sim, se aparenta ter.

Cada vez mais gente troca a individualidade pela aprovação dos outros e se torna um clone fajuto de seres pré-aprovados pela platéia ou uma versão mentirosamente melhorada de si mesmo. Por fora, bela viola; por dentro, pão bolorento (quem tiver mais de 25 anos já deve ter ouvido esse ditado).

Não vejo problema algum em acertar um nariz torto, levantar peitos caídos, ou dar uma arrumada no que eu arrumei (sim, eu já arrumei, mas ninguém precisa ficar sabendo o que MUAHAHA). O que me amedronta é essa insanidade que leva a um tipo inédito e estúpido de mutilação, a mutilação pró-fama. O que são dores, anestesia, o período angustiante de recuperação perante a cara de espanto dos amigos, o despeito das amigas, os futuros flashes? Nem para os índios na época do descobrimento o espelho era tão fascinante. Eles trocavam ouro pra ter um pedaço de si refletido. Hoje em dia, troca-se de rosto, de corpo, por elogios, muitas vezes fajutos.

Jamais fomos tão carentes de aceitação. Nunca fomos tão egocêntricos.

Adoraria perder uns quilos. Chegando aos 30, também seria legal outras coisas. mas não deixo de me sentir interessante, digno de receber elogios, amor, porque a calça, ocasionalmente, não fecha. Não me acho um lixo porque comprovo diariamente a existência de homens mais sarados e fortes e com cabelos bons do que eu. Gosto de ser quem eu sou e prezo quem tem a mesma relação consigo mesmo - pobres (e chatas) as pessoas que se odeiam por não atender às expectativas alheias.

As débeis que vendem até a alma para ter a bocona da Angelina Jolie ou a cintura da HAlle Berry deveriam saber que a primeira se divorciou porque o marido transava até com a fruteira e a segunda vive sozinha porque não controla o próprio ciúme. Ter dimensões e formas idealizadas não livra ninguém da infelicidade. Apenas o transforma num infeliz bonito na foto.

Uma coisa é certa: seríamos muito mais felizes se investíssemos em terapia o que gastamos sugando banha e esticando a cara.

2 comentários:

InLine disse...

Pois é.. não dá nada querer fazer um regime e talz.. mas exageros também é absurdo mesmo..
O problema é que a própria mídia coloca pessoas que não tem "six pack" ou seios turbinados e bunda empinada como uma pessoa que está incompleta no quesito beleza e bem estar...

Eu sei o que voce corrigiu! hhaSiuHAius
;*

Anônimo disse...

Defina cabelo ruim.... hihihihihih


Vc já corrigiu algo, achei que essa perfeição era de nascença =x


uii


kisses