domingo, 19 de abril de 2009

A esquina

O mundo cabia ali, naquela esquina. Meus amigos e eu naquela esquina. Paaso por ela em minha mente, tantos anos depois, e revejo por um instante os rostos jovens, inocentes e cheios de esperança da turma que se reunia na esquina. Éramos jovens, éramos imortais, éramos os invencíveis. O Totó, o Zezé, o Banus, o Minhoca, o Ed, o Artime, o Pepê. O Belisco e o Maguila. Cada um de nós têm na memória dois ou três lugares que definiram uma época, uma ida, um sonho. Aquela esquina é, para mim, um desse slugares sagrados.

Meus amigos. Descer a minha rua para encontrá-los na esquina era um grande programa. Eu podia contar com meus amigos. Eles podiam contar comigo. Éramos um só. Isso acontece apenas em momentos especiais. Você e seus amigos como um todo. Depois a vida como ela é se apresenta e os amigos se dispersam. Ficam fragmentos, às vezes. Mas a verdade é que aquela proximidade, aquela intensidade, aquela intimidade, aquela cumplicidade, isso fica lá pra trás. Existe um momento solene e impassível de repetição em que os amigos e nós somos um só, e exatamente por isso podemos enfrentar tudo. A minha esquina. A nossa esquina. Ríamos muito. Encontrávamos em tudo motivos pra rir. Amigos riem muito. Basta às vezes um olhar. Todos entendem o significado desse olhar mudo e todos caem na gargalhada. Muitas vezes o humor entre amigos vem simplesmente do nada. Como diz meu sábio tio butequeiro, um homem sábio do interior, a mais legítima prova de amizade está na risada sem motivos. Nós ríamos com motivo e sem motivo na esquina.

E flertávamos também. Lá vinha a Ana Estela com seus olhos assombrosamente azuis. Mais azuis do que um céu de verão adolescente, juro. Ela e outras meninas passavam a uma prudente dstância de nós. Jamais na mesma calçada. Mas a verdade é que estávamos muito mais ocupados em rir do que em namorar. Depois que crescemos um pouco os risos se alternaram com inquietação. Foi na esquina que recebemos, perplexos, a notícia de que o Badô tinha se matado. Virou o revólver contra a cabeça e apertou o gatilho. Um pouco mais velho que nós. Drogas. Aprendemos muita coisa sobre a vida na esquina. Agora também aprendíamos sobre a morte. A morte absurda, jovem, estarrecedora. Outras baixas haveriam. O Edu numa briga. O Mingo numa moto. Talvez não fôssemos tã imortais quanto supúnhamos.

E eis que a esquina como um ponto mágico um dia se perdeu. Tento lembrar se houve uma última vez, um último encontro. Não, não houve. É como se um dia tivéssemos combinado de nos encontrar no dia seguinte na esquina e, por alguma razão insondável, simplesmente não tivéssemos comparecido. Melhor assim. Imagino, olhando para trás, como teria sido dura uma despedida de nós e de nossa esquina, um dia tão amada como a mais amada das namoradas. Ninguém se despede da inocência sem tristeza e dor. E então me ocorre que se por um momento eu pudesse voltar a ser garoto, correria à esquina e diria a meus amigos: "Amo vocês. Obrigado por tantas coisas boas." Nós não nos despedimos. Apenas um di adeixamos de aparecer naquela esquina em que cabia o mundo, e à qual às vezes volto, na imaginação e na saudade, em noites frias e escuras na busca do calor e da luz que a mera lembrança dos meus amigos traz.

Agor aminhas esquinas voltaram a existir, um pouco diferentes de uma esquina real, mas com o mesmo sentimento da minha esquina antiga, Minha esquina chamada MSN onde eu encontro com meus amigos que ficam longe de mim, minha esquina na casa do Gudin, onde eu me divirto tocando forró (sim, exatamente isso, eu me divirto tocando forró), e onde as risadas sem motivo revivem novamente, minha esquina chamada "meu quarto", onde meus amigos passam noites e noites conversando até as 6 da manhã, rindo de um ronco ou de um peido, coisas idiotas que fazem da minha vida algo que valha a pena se lembrar.

Enfim, que essas esquinas não se desfaçam mais, nunca mais. Desculpe pelo texto longo.

:*

4 comentários:

Will disse...

muuito ruim quando essas "esquinas" se desfazem ;/ mas bom que sempre tem outras \o/

Anônimo disse...

q possa,esta esquina se transformar em um quarteiram, uma quadra, um bairro... Q seja!
q no final, estejamos juntos =)

gudin

Anônimo disse...

A esquina que eu amava se transformou numa loja de vender plantas. ¬¬
Hoje só tenho uma foto com os meus amigos lá e é a única lembrança que eu tenho. :|
Os amigos se foram com a vida, mas pelo menos a foto ficou. :x
Hail!

( manel )

Julio Dario disse...

Infelizmente a vida como uma cidade em evolução as vezes com a manutenção acaba mundando também a esquina, mas, já que foi mudada só nos resta acostumar com as novas esquinas e usufruirmos bem delas para que futuramente nao cairmos em pesar por nao ter dado valor..
a vida é sempre assim neh kara
quantas vezes agente fala
"Eu era feliz e não sabia!"
hauhauhaa
mais ta ae...
espero que eu faça parte ainda da sua esquina grande mumas.. =*
s2

Ass.: JuLin xD~